a madrugada

estranha
electrostática
enevoada
electricidade
e chuva fria
explosiva
e bebia as gotas
elevada
elementar redonda lua cheia
enegrecida
envolta
e não estou em minha casa
já nunca estou em minha casa
é como viajar e desejar o regresso
é como estar e não estar
ser tudo e nada.
invejo as mulheres que te tiveram
as horas que dormes sem mim
a serenidade
estável
e o sol do entardecer
estrelas desfocadas e tristes
e nuvens negras
chovendo lágrimas terrosas
esculpindo crateras, ravinas
enobrecida terra fecunda
estilizado horizonte
enxofre e cobalto
e vejo longe, luz, luar
estrada infinda
escura
escudada de monstros
e gente atrás das paredes
embriagada, inerte
espreguiçada
espreita a janela
e sigo caminho
enovelada
emaranhada
esquecida
enregelada
escuto inerte e triste
a madrugada

08.08.28

UM INFINITO, A TRISTE SOLIDÃO.
PARA A DESTRUIR, QUASE NADA:
UM SORRISO, UMA MÃO QUE SE ESTENDE.
UNS DIAS ATRÁS DOS OUTROS,
A VIDA EM COMPASSO BINÁRIO.
PARA A DESAFIAR UM TERCEIRO TEMPO
ARRANCADO DO NADA,
UM OLHAR QUE FICA.
OS DIAS QUE PASSAM, TANTOS,
E NÓS, ENVELHECEMOS,
E CONTINUAMOS À PROCURA
DO BEIJO QUE NASCE DO MESMO SENTIR.

08-08-08


INSTALADO NOS MEUS SENTIDOS

ESPREITAS-ME NAS CORES DAS AGUARELAS,

NA LUZ DO SOL

NOS DESCONFORMES TONS DO CÉU,

NAS BRISAS DO ENTARDECER,

NO BRILHO DAS ESTRELAS.

RESPIRO UM AR POLUÍDO

DO TEU AROMA.

A MINHA MEMÓRIA SÃO AS TUAS MÃOS,

PERCORREM OS CAMINHOS,

ABANDONAM-ME EM QUALQUER LUGAR

IMÓVEL

NO ÊXTASE DA COMTEMPLAÇÃO

DAS ESTRELAS CINTILANTES

DOS TEUS OLHOS.


DOCE SOLIDÃO,

SABER QUE EXISTES,

NÃO MUITO LONGE.

porque vieste


FARÁS A PERGUNTA

SEM RESPOSTA,

SEI QUE A FARÁS

APESAR DE.

PALMILHAREI O CAMINHO.

QUERO VER ONDE, POR LONGAS E MOROSAS ROTAS,

ATRAVESSANDO A PALAVRA

E O SENTIMENTO,

MOVIDO PELA ÂNCIA

DA DESCOBERTA,

A TEMPO DE VIVÊ-LA,

ESTÁS.

TAMBÉM EU QUERO,

A TEMPO DE VIVÊ-LA,

A DESCOBERTA.

COMO TU, NÃO NAVEGUEI OITENTA DIAS.

VIAJO NO DIVÃ.

VIAJO DE NOITE.

A PALAVRA E O SENTIMENTO,

ATRAVESSANDO-ME CAEM

NO BRANCO LISO.

A PALAVRA E O SENTIMENTO,

ATRAVESSA-LOS,

NUMA TELA DERRAMADA,

NEM BRANCA, NEM LISA.

INVENTO AMOR NAS PALAVRAS,

TU, NO VERDE DO TEU JARDIM.

CHEGAREI SEM AVISAR,

NUMA FRESCA MANHÃ.

FARÁS A PERGUNTA.

EU?

E TU, PORQUE ESTÁS AQUI?

neblina matinal


ABRI OS OLHOS
ABRI MAIS OS OLHOS.
O LUGAR ERA INCERTO
A HORA BARALHADA
AVARIOU-SE O RELÓGIO DE SOL
O DIA DEIXOU DE TER SENTIDO
VAGUEIO PELAS RUAS DA INCERTEZA
O QUOTIDIANO NÃO É ALI.

ESTOU TALVEZ PERDIDA NÃO SEI PARA QUE LADO É A PRAIA
O MAR FUNDE-SE NA BRUMA.

SE AO MENOS DESCOBRISSE COMO VOLTAR AOS DIAS FELIZES!

VAGUEIO POR UM MUNDO SÓ MEU
AINDA NÃO É HOJE QUE VOU ENCONTRAR O GRANDE AMOR
HOJE NÃO.

A NEBLINA MATINAL APAGOU O DIA DO MAPA
NÃO VOU Á PRAIA
NÃO VOU ENCONTRAR O GRANDE AMOR
NÃO ENCONTRO O REGRESSO A CASA

ESTOU SÓ
E VOU DESPARECER NA BRUMA.

Mon dieu

Ah mon dieu
C'est chaud, c'est froid

Quelque piége

Comme un aballoir??

Ah!

Le coeur

Le coeur

C'est frappé?

Ah, non non!

Mon dieu
Q'est ce que tu dis?

Non non...

J'ai vu les trompetes

J'ai vu la visage

La mer

J'ai vu tout le monde, comme ça!

Dans tes yeux, comme ça.

Um dia sonhei


É suave, refrescante
Ouço
Afoga-te!

Continuo a andar
Olho em volta
Cheira a violetas
Sabe a carvão

Afoga-te!

Tudo gira, redemoinha
Os sentidos apuram-se
Sinto a terra
Que segura os meus pés

Escuto

Afoga-te!
Corre! Corre!

Corro
Algo cai com um baque
Estou no chão
Vejo folhas lá em cima

Levanta-te! Continua a correr!

Afoga-te!

Acordo

a porta



Era uma vez um homem
que não abria nem fechava a porta.
A porta entreaberta.
A porta semicerrada.
De costas para a porta,
o homem ao piano.
Aprumado, insubstancial, como se lá não estivesse.
Quase plano.
No lugar da janela, um ecrãm onde passam imagens.
O mundo gira sem parar.
O homem tecla sem respirar.
A música que sendo a mesma, nunca é a mesma.
O homem que sendo o mesmo, podia ser outro.
A música, o mundo,
o movimento giratório da terra,
a vertigem até à morte.
Poucas pessoas entram e saem por essa porta.
Muitas passam e seguem.
Muito poucas, as que têm tempo, esperam do lado de fora.
Sempre no mesmo sítio,
o homem, plano, não olha para trás.

Helena; jan2008
POUCO ME IMPORTA QUE RESTEM
PEDAÇOS DE MIM NAS PEDRAS

Para sempre à espera de amanhã



Um sopro seco,
Um sussurro arranhado.
O longo silêncio
Viajante.

Na tarde que dorme
Espero pelo que era nosso,
Sem o ter-mos pedido
E que em meu se tornou
Sem o ter merecido.

No bater desesperado
O som. Desritmado.
Tendo aquilo em que penso
Fogo inanimado!
Espero, nado
Sibilante luar de notas apagadas,
De voz corroída

Cansaço de cantar

Sinto as folhas gemer
Gritando o seu sofrer.
Vêm sentar-se a meu lado
Chão...
Inexistente

Somos a conversa
O passar das horas
Somos os cabelos desgrenhados do Sol
De madrugada.
Somos como flores do Inverno,
De coraçãozinho apagado
Mortas pela geada
Esventradas de palavras.

Somos a espera pelo amanhã